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terça-feira, 7 de maio de 2013

Personalidades Alentejanas - FIALHO DE ALMEIDA, José Valentim


(n. Vila de Frades em 1857; m. Cuba a 4 Março 1911)

Escritor, panfletista e um dos mais destacados contistas alentejanos do fim do século XIX. Seu pai mestre-escola da localidade, dirigiu os rudimentos da sua educação e ensinou-lhe as primeiras letras. Em 1866 foi para Lisboa, para o Colégio Europeu, fazer os estudos elementares, que seguiu regularmente até 1872. Nesse ano viu-se forçado, por circunstâncias da sua vida económica, a deixar o colégio e a empregar-se como praticante de farmácia, numa botica do Largo do Mitelo. Contudo, conseguiu completar os estudos secundários e formou-se em Medicina (Lisboa), não tendo praticamente exercido, optando pelo jornalismo profissional.

Antimonárquico, veio a reconciliar-se com o regime tradicional, depois de um encontro com o ministro de D. Carlos. O regicídio e os caminhos trilhados pelos republicanos, bem como o seu comportamento perante os vencidos, mereceram-lhe veementes críticas. Chegou a ser ameaçado de proscrição do país, facto que não se concretizou graças à intervenção oportuna de Manuel Teixeira Gomes, seu amigo de juventude.

Em 1881, publicou o seu primeiro livro, os Contos, que dedicou a Camilo Castelo Branco, e no ano imediato a Cidade do Vício. Em 1889, o editor portuense Alcino Aranha, seduzido pelo grande êxito que tinham tido as Farpas de Ramalho Ortigão, propôs-lhe a publicação de uma crónica mensal da vida portuguesa, encargo que Fialho aceitou, e em Agosto desse ano saiu a público o primeiro panfleto, que foi tão bem recebido, que em breve passou de mensal a semanal. Durou a sua publicação até Janeiro de 1894, e estes artigos acham-se actualmente reunidos em seis volumes, que conservam o título primitivo de Os Gatos. Esta obra ficou na literatura portuguesa como umas das grandes obras de panfletários, tão características da literatura jornalística do final do século XIX.

Foi também um contista. O seu estilo caracteriza-se por uma grande exuberância verbal que, se umas vezes consegue atingir momentos de uma grande beleza, noutras chega a roçar pelo mau gosto, por um certo artificialismo de galicismos, que só encontrou eco em alguns literatos de café. Nos seus escritos de panfletário usa, por vezes, uma linguagem plebeia que torna mais violenta e agressiva a sua prosa de combate.

Fialho de Almeida, quase no fim da vida, casou com uma senhora sua parente, e foi residir para o Alentejo, vivendo então a existência de um pequeno proprietário rural, dispensando nos últimos dez anos de vida uma menor actividade literária. Contudo, a sua obra tem importância particular para o Alentejo. Especialmente para Évora, é importante um texto seu publicado na obra Estâncias de Arte e Saudade, intitulado «Em Évora», que escrito provavelmente nos últimos anos do século XIX. O convívio com o texto «Em Évora» pode levar-nos a compreender a estranha vibração que iluminou Fialho de Almeida e lhe deu alma para o escrever e, desta forma, talvez consigamos descortinar o génio encantado por esta cidade.

Colaborou nos jornais e em outras publicações, escrevendo folhetins, crónicas, críticas literárias e teatrais. Escreveu para quase toda a grande imprensa da sua época: Revista de Portugal, Illustrações, Serões, Diário Nacional, Novidades, Revista illustrada.

Publicou em volume: Pasquinadas (1890); Lisboa Galante (1890); Vida Irónica (1892); O país das uvas (1893); Madona do Campo Santo (1896); À Esquina (1903). Este, que é o último volume que publicou em vida, intitulou-o, como às Pasquinadas e à Vida Irónica, Jornal de um vagabundo. Postumamente publicaram-se as seguintes obras, que são, na quase totalidade dos casos, constituídas por colaboração dispersa em várias publicações: Barbear, Pentear (1911); Saibam quantos, cartas e artigos políticos (1912); Estâncias de Arte e Saudade e Aves migradoras (1921); Figuras de destaque (1924); Actores e autores, impressões de teatro (1925); e Vida Errante (1925). Traduziu a peça João Darlot em 3 actos, original de Legendre, que foi estreada no Teatro da Trindade a 9 Abril 1898. Em alguns dos seus trabalhos usou o pseudónimo de Valentim Demónio.



In Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa; Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia Lda., [195-]. Vol XI, p. 250-251.

In SILVA, Joaquim Palminha (coord.) - Dicionário Biográfico de Notáveis Eborenses 1900/2000. Évora: Tip. Diário do Sul, 2004. p. 8.


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