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terça-feira, 25 de março de 2014

Lenda da Moura do Reguengo

Ao lado da ermida de S. Mamede nasce um ribeiro chamado da Azenha Queimada. Desde de socalco em socalco, até despenhar-se de cascata em cascata, sobre uma massa rochosa, com metro e meio de profundo, um de largura e dois de comprimentos.

A lenda diz que está ali uma moura encantada.

As mulheres diziam com convicção que em certos dias viam olhos de azeite e bocadinhos de alface à superfície da água.

Certo dia, um homem que vinha dos lados da ermida passou junto à cova da moura, e viu uma jovem duma beleza que nunca tinha visto. Tão surpreendido ficou, que mal lhe disse: “Deus te salve”.

A jovem disse-lhe:

“Sei que és boa pessoa, e a tua mulher também. Leva-lhe este cinto para ela usar.”

O homem agradeceu, e pôs-se a caminho. Ao entrar no souto da Quinta da Relva, deparou com um castanheiro que tinha uma pernada quase a tocar no chão. Resolveu pôr o cinto em volta dela, para ver o efeito que iria causar, quando a mulher o pusesse. De repente, o ramo onde tinha posto o cinto partiu-se. E o homem repetiu: “Meu Deus, se o tivesse posto à minha mulher!”

Imediatamente ouviu a moura dizer:

“Ingrato, que dobraste o meu encanto!”

O homem fugiu cheio de medo.

Diz a lenda: se o homem tivesse levado o cinto e a mulher o tivesse posto, nesse momento quebrava-se o encanto da moura, seguindo ela o seu destino.

Assim, ficou novamente a moura encantada, até que se lhe depare nova oportunidade.

Versão de Reguengo (Portalegre), recolhida por Manuel António Sequeira e publicada por Maria Tavares Transmontano (1997) – Subsídios para a Monografia de Portalegre, Portalegre, Câmara Municipal de Portalegre: 132 – 133.

sábado, 22 de março de 2014

Lenda de Marvão

[Q]uando Medóbriga fora conquistada e distruída por Cássio Longino, que muita parte da gente fugira com molheres e mininos pera aquelas rocas e penedias e, como a subida é tão agra, (e ainda naquele tempo seria pior, pois não era tam frequentada) iam caindo, uns por ũa parte, outros por outra, fugindo da morte e dos perigos que a guerra, com suas pressiguições traz consigo. E assi começaram a bradar uns pera os outros dizendo: “Malvão, Malvão”. E daqui, mudado o l em r, se chamou Marvão.

Versão de Galegos (Marvão) contada por “uns velhos” em finais do século XVI e recolhida por Diogo Pereira Sotto Maior (1984) – Tratado da Cidade de Portalegre, (introdução, leitura e notas de Leonel Cardoso Martins), Lisboa, INCM / Câmara Municipal de Portalegre: 40.

sábado, 15 de março de 2014

Lenda da Maia

[D]epois de em vão procurar um recanto onde pudesse acabar os restos da tormentosa vida que levara, Lísias, filho ou capitão de Baco – alguns querem também que fosse Lísio ou Líseo, filho de Sumule – já de avançada idade, ali foi ter 1300 anos a. C. e, achando-o do seu agrado, a este local se acolheu e com sua gente o povoou, edificando-lhe um forte e templo, consagrado a Dionísio ou Baco, seu deus, e dando à serra o nome de uma sua filha chamada Maia. Ali vivendo em paz e liberdade, apascentando os gados e cultivando os campos, de cujas sementes e frutos se alimentava […]. Estava o referido templo no local onde actualmente se ergue a ermida de S. Cristovão, a cujo sopé corre um arroio, que pelas gentes é conhecido pelo ribeiro de Baco. 

Ora reza a tradição que nas margens deste pequeno ribeiro se encontrava a malhada da pastora Maia – filha de Lísias – que pela sua bondade e formosura era adorada por todos quantos a rodeavam. Levava uma vida alegre e pacífica, guardando o rebanho de brancas ovelhas e encontrando-se diariamente em Tobias, que idilicamente e junto a ela se quedava horas sem fim, tocando na sua flauta pastoril. 

E, assim, feliz e descuidadamente decorria o viver dos dois jovens, até que Dolme, um miserando que por ali vagabundeava, embalado pelos toques maviosos da flauta de Tobias e entusiasmado pelos dotes físicos da linda Maia, numa tarde primaveril interrompeu os dois pastores, amedrontando-os com a sua aparição. Foi Tobias esconder-se atrás de um rochedo, enquanto que, levantando-se como que envergonhada, Maia fixa no chão os seus formosos olhos. Mas levada a isso pela doçura do seu coração e, possivelmente, para assim quebrar os instintos maus que adivinhava no intruso, desce para a borda do ribeiro, enche a sua cabacinha e bondosamente lhe oferece de beber a cristalina água que nela recolhera. Finge Dolme aceitar a gentil oferta mas, ao recebê-la, propositadamente deixa cair a cabaça e em seus musculosos braços tenta enlaçar a jovem que, estupefacta com tal gesto, aflitivamente chama por Tobias. Acorre ele e com Dolme trava sanguinolenta luta, que só termina quando este crava no peito do pobre rapaz o machado de pedra de que vinha munido, arremessando-o já moribundo de encontro aos rochedos. Horrorizada pretende Maia fugir mas não o consegue, pois Dolme a agarra e só a larga depois de ser cadáver. 

Desceu a noite nas abas daquela serra e Maia não voltara à malhada, pelo que, tardando-lhe o regresso, o velho pai a procura por toda a parte. Sobe aos outeiros vizinhos e chama repetidas vezes, mas o seu chamamento fica sem resposta. Assustadamente corre à malhada e, acendendo um toco de pinho, vai em procura da desaparecida. Passados instante o cão uiva lugubremente junto do cadáver da formosa Maia e o pobre pai, correndo para o pé do animal e deparando com a filha descomposta e morta, mede a grandeza da tragédia havida e instantaneamente perde a razão.

Durante sessenta luas por ali arrasta a sua triste vista, acocorado junto à malhada, onde julga ver aparecer a filha guardando as ovelhas, agora sem pastora. E, durante esse espaço de tempo, não pronuncia senão o nome de Maia, ele a quem os viandantes passaram a tratar pelo louco de Baco. Ao cabo de tão tormentoso sofrimento, ao velho ancião se afigura certo dia o aparecimento da filha que, sã e escorreita, lhe estendia os braços e, então, num fugidio lampejo de alegria, exclama:

“Maia, minha filha, morro feliz.”

Versão literária, de proveniência desconhecida, publicada na Grande Enciclopédia Portuguesa-Brasileira, volume II: 551.

quinta-feira, 13 de março de 2014

quinta-feira, 6 de março de 2014

Lenda das Santas da Aramenha

Teve esta cidade rei em tempos que os Romanos senhoreavam a Espanha. Um se chamou Catélio e sua mulher se chamava Cálgia, da qual nasceram nove filhas, todas de um ventre; que, enfadada a mãe com tantas filhas, com era gintia, as mandou deitar no rio por uma criada sua que, compadecida da piedade natural, que faltara na mãe que as havia parido, as deu a criar em um bairrio onde vivia gente cristã, e foram baptizadas e instruídas em nossa santa fé católica. Foram depois santas e mártires; os nomes destas santas traz o Martirológio Romano, e são os siguintes: Genebra, Liberata, Vitória, Eumélia, Germana, Márcia, Basília, Quitéria, Gema; as quais todas foram martirizadas em diversas partes.

Versão de proveniência desconhecida, recolhida em finais do século XVI ou princípios do século XVII por Diogo Pereira Sotto Maior (1984) – Tratado da Cidade de Portalegre, (introdução, leitura e notas de Leonel Cardoso Martins), Lisboa, INCM / Câmara Municipal de Portalegre: 37.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Lenda da imagem do Mártir Santo

Diziam as pessoas antigas que há muitos séculos um cabreiro achou entre umas rochas (no local onde hoje são as Carreiras) uma imagem do Mártir Santo em pedra. Como morava lá para o pé do Veloso, onde era antigamente o povo, resolveu colocar aí o santo. Só que, no dia seguinte, ele estava de novo entre as pedras da serra. O cabreiro tentou levá-lo de novo, mas ele voltava sempre. Então as pessoas fizeram uma ermida a São Sebastião, no local onde a sua imagem tinha aparecido.

Anos passados, começaram a construir casas neste sítio, e assim nasceu também a aldeia.

Versão de Carreiras (Portalegre), contada em 1992 por Ana Fernandes Martins (n. 1913), recolhida e publicada por Ruy Ventura (1996) – “Algumas Lendas da Serra de São Mamede”, separata de Ibn Maruán – Revista Cultural do Concelho de Marvão, nº 6, Dezembro: 38.

VERNEY, Luiz António

(n. Lisboa em 1713; m. Roma em 1792)

Filósofo, pedagogista, crítico e delineador de reformas português. Formou-se em Artes e, posteriormente, em Teologia na Universidade de Évora. Foi nomeado pelo Papa arcediago de sexta cadeira na catedral de Évora. O seu conhecimento em línguas clássicas e modernas, levou-o a ter contacto directo com as mais diversas obras escritas.

A sua mais célebre obra é o Verdadeiro Método de Estudar. Esta obra criticava todo o método de ensino utilizado na altura e também a mentalidade portuguesa de então. Esta obra foi duramente criticada na altura, à excepção de D. João V, que percebeu que este estudo implicava uma verdadeira reforma no ensino português. Por isso, encarregou Luís Verney de elaborar os novos Estatutos da Universidade de Coimbra.

A sua constante vontade em querer instruir os portugueses, em várias matérias filosóficas, científicas, históricas e literárias, levaram-no a assumir uma postura mais política, mas embateu com as ideias do marquês de Pombal, que rapidamente o fez desacreditar e vetou-o ao esquecimento.

Refugiou-se em Roma, onde para publicar os seus livros reformistas, acabou por despender a sua fortuna. Ficou conhecido por ser um verdadeiro “iluminista” e um dos primeiros precursores da medicina moderna em Portugal.



In Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa; Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia Lda., [195-]. Vol. XXXIV, pp. 712-716.

domingo, 2 de março de 2014

Lenda da Serra de Matamores

Dizem que na Serra do Mata Amores, Freguesia dos Fortios – Portalegre, há uma princesa encantada. Aparece a vender passas na manhã de S. João. Quem entrar na sua casa de pedra fica encantado.

Versão de Fortios (Portalegre) recolhida (em 1984) e publicada por Maria Tavares Transmontano (1997) – Subsídios para uma Monografia de Portalegre, Portalegre, Câmara Municipal de Portalegre: 132.