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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Personalidades Alentejanas - RIBEIRO, Bernardim

(n. Torrão em 1482?; m. 1552?)

Escritor português. Algumas referências na sua obra, que se supõe serem autobiográficas, levam a pensar que seria natural do Torrão (Alcácer do Sal) e certas conjecturas feitas a propósito da segunda edição de Menina e Moça apontam para que tenha morrido antes de 1557.

Frequentou a corte, onde foi poeta conhecido, e colaborou no Cancioneiro Geral (1516) de Garcia de Resende. Sá de Miranda fez-lhe várias referências nas suas obras como grande amigo e companheiro de letras e afirmou que, com as suas éclogas, Bernardim Ribeiro foi o introdutor do bucolismo em Portugal.

A sua obra mais célebre é a Menina e Moça, da qual há três versões. A primeira foi editada em 1554, em Ferrara, pelo exilado judeu português Abraão Usque. Este facto apoia a tese de alguns ensaístas, nomeadamente Hélder de Macedo (Do Significado Oculto da Menina e Moça), acerca do judaísmo de Bernardim Ribeiro. Isto daria à obra, de estrutura aparentemente inconclusa, um significado cifrado que constituiria a representação esotérica da comunidade judaica no exílio. Tal tese surge apoiada ainda em outros factos da vida do autor, como o seu afastamento forçado da corte, talvez mesmo de Portugal, já que a publicação das suas obras teve lugar em cidades estrangeiras, onde havia comunidades de judeus emigrados. Posteriormente segui-se a edição eborense de 1557, por André de Burgos, e a terceira, de 1559, impressa por Arnold Birckman em Colónia.

Menina e Moça é uma novela sentimental, com influência de Boccaccio, de temática amorosa e cavaleiresca com fundo bucólico e autobiográfico (como o sugerem os inúmeros anagramas, quer do nome do autor, Binmarder, quer de pessoas das suas relações, como Aónia ou Avalor). Nela se encontra presente uma subtil análise psicológica em voz feminina, eco da tradição galego-portuguesa das cantigas de amigo e precursora do romance psicológico moderno. O amor trágico alia-se a um sentimento geral de fatalismo e solidão, numa linguagem que se aproxima sugestivamente do coloquialismo, de extrema riqueza rítmica e lírica. Esta novela, cuja designação desde cedo se popularizou como Saudades, veio influenciar claramente a literatura portuguesa, constituindo um fundo sentimental recuperado e reelaborado posteriormente por vários escritores e, nomeadamente, pelos movimentos romântico e saudosista.

Além da novela Menina e Moça, Bernardim Ribeiro escreveu doze poesias menores incluídas no Cancioneiro Geral e três composições em verso (o vilancete Pera tudo houve remédio, a cantiga Pensando-vos estou, filha e o romance de Avalor), cinco éclogas, a sextina Ontem pôs-se o sol e a noute, o romance Ao longo de ua ribeira e duas cantigas e outras composições que foram incluídas na edição de Ferrara daquela novela, em 1554, a cargo de Abraão Usque. O romance Ao longo de ua ribeira, única composição portuguesa inserida no Cancioneiro Castelhano de 1550 (segundo Carolina Michaelis), só apareceu publicado com as obras completas do poeta na edição de 1645.

Enciclopédia Universal Multimédia On-Line. História da Literatura Portuguesa - Ribeiro, Bernardim. [Online] URL: http://www.universal.pt/scripts/hlp/hlp.exe/artigo?cod=2_99. Acedido a 18 de Novembro de 2007.

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