(n. Aljustrel em 1862; m. Lisboa a 19 Setembro 1934)
Uma das personalidades de maior relevo da política republicana, estadista, escritor, jornalista e médico militar. Filho de lavradores humildes, fez o curso de Medicina na Escola Médica de Lisboa.
A sua carreira política iniciou-se em 1890. O Ultimatum inglês veio já encontrá-lo em plena actividade política, colaborando em jornais e convivendo com personalidades de destaque do partido republicano. Depois de ter estado em Paris, a preparar-se para um concurso da Escola Médica, fez no Centro Socialista das Amoreiras a sua primeira conferência política intitulada: A coroa substituída pelo chapéu alto.
A principal contribuição de Brito Camacho para a propaganda republicana realizou-se pelo jornalismo. Depois de dirigir, em Viseu, o Intransigente, fundou em Lisboa A Luta, que começou a publicar-se a 1 de Janeiro de 1906. Neste jornal afirmaram-se, principalmente, as suas excepcionais qualidades de jornalista e polemista. Entre os colaboradores contavam-se João de Meneses, José de Magalhães, Basílio Teles, Duarte Leite, Bettencourt Raposo, Sousa Pinto, Carlos Amaro, Emílio Costa, Augusto de Vasconcelos, Ferreira de Mira. A influência de A Luta foi enorme, antes e depois do advento da República. Além de artigos de fundo, eram da sua pena os vivos e espirituosos comentários da secção Ao de leve, ou os dos Ecos, que rapidamente se celebrizaram.
Foi eleito deputado pelo círculo de Beja, nas eleições que se realizaram a 5 de Abril de 1908, depois do regicídio. Falou pela primeira vez na Câmara de Deputados a 9 de Maio, protestando contra o facto de o terem obrigado, como deputado, a jurar manter uma religião que não professava e a ser fiel a uma instituição que combatia; e apresentou um projecto de lei que visava abolir em todas as instâncias o juramento político.
Em Agosto de 1909 tomou parte activa na organização das manifestações promovidas pela Junta Liberal. Este organismo tinha à sua frente o Dr. Miguel Bombarda, de quem Brito Camacho recebeu as últimas indicações revolucionárias, a 3 de Outubro de 1910, quando aquele foi vítima dum atentado.
O seu papel no movimento insurreccional, que implantou a República, foi da maior importância graças às suas relações com o chefe militar, o almirante Cândido dos Reis, e às amizades que contava entre a oficialidade do Exército e da Armada. Proclamado o novo regime, substituiu, em 24 Novembro 1910, na pasta do Fomento do governo provisório, o Dr. António Luiz Gomes. Entre as suas iniciativas, de carácter essencialmente construtivo, devem salientar-se as relativas ao crédito agrícola, aos caminhos de ferro, aos transportes em geral, ao ensino técnico, e com o seu apoio se levou a cabo a reforma efectiva do Instituto Superior Técnico de Lisboa.
Depois de proclamada a República, continuou a ocupar o seu lugar no Parlamento, eleito pelo círculo de Aljustrel. À sua volta juntou grande parte dos maiores valores intelectuais republicanos. Quando, no congresso da rua da Palma, em 1911, o velho partido republicano se dividiu, tomou orientação nitidamente divergente da dos Dr. Afonso Costa e do Dr. António José de Almeida, e organizou e chefiou a União Republicana.
Durante a I Grande Guerra conservou-se afastado dos governos da União Sagrada, defendendo a ideia de que a participação de Portugal deveria ser nas colónias, e não em França. Depois da revolução de Sidónio Pais, a União Republicana deu ao primeiro ministério três ministros: Moura Pinto (Justiça), Santos Viegas (Finanças) e Aresta Branco (Marinha); quando, porém, viu a situação muito influída pelos monárquicos (como ele previra), combateu-a.
Após estes movimentos procurou, mais uma vez entre tantas, ligar a União Republicana ao partido Evolucionista de António José de Almeida, criando-se assim o partido liberal, que funcionaria como força conservadora em relação ao chamado partido democrático, cujo chefe era Afonso Costa. Desligou-se, desde então, de toda a actividade partidária.
Em fins de 1921, sendo ministro das Colónias Ferreira Rocha, e atravessando Moçambique um momento difícil, devido sobretudo a certas ambições do general Smuts, Brito Camacho foi nomeado alto comissário da República naquela colónia, funções que exerceu durante dois anos com notável acção diplomática, administrativa e de fomento.
Só ao partir para Moçambique abandonou a direcção efectiva de A Luta. A sua obra de escritor compreende entre outros os seguintes volumes: Herança mórbida (tese, 1889); Propaganda; Dois crimes; Impressões de viagem; D. Carlos íntimo (1912); Ao de leve; Nas horas calmas; Pretos e brancos; Por aí fora; Longe da vista; Gente rústica; Os amores de Latino Coelho; A caminho de África; Terras de lendas; Quadros alentejanos; Jornadas; Contos ligeiros; Gente vária; Contos e sátiras; Cenas da vida; Gente boér; Pó de estrada; Lourdes; A questão romana; Por cerros e vales; Ferroadas; A reacção; A linda Emília; Moçambique; De bom humor; Matéria vaga. Alguns artigos políticos saíram em separata, e publicaram-se isoladamente parte dos seus discursos e cartas.
Foi casado com D. Maria da Luz, filha do Dr. José Jacinto Nunes. Decidido a assentar praça, para ser médico militar, prestando serviço em diversas unidades do Continente e dos Açores. Foi promovido a tenente em 1891, a capitão em 1901, a major em 1917, a tenente-coronel em 1918 e a coronel em 1919.
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