Um chefe mouro, reconhecendo que não tinha tropas que chegassem para enfrentar um aguerrido exército invasor dos seus domínios, abandonou o amuralhado da cidade e refugiou-se com a família e a corte nos brejos da serra. Carregadas por escravos iam, no meio do apressado cortejo em fuga, as arcas cheias de tesouros, para serem depostas em lugar seguro, longe da cobiça dos agressores.
Mas um escravo escapou-se do emboscado acampamento e foi avisar o comandante inimigo. A partir daí, já nada podia salvar os foragidos. Ouvindo o grito da soldadesca que, de lanças e alfanges em punho, trepava as faldas da montanha, o chefe dos sitiados percebeu que ele e os seus não podiam esperar clemência. Chamou de parte a sua filha, linda menina moura, e disse-lhe, contendo as lágrimas:
- Tu és a jóia mais preciosa dos meus tesouros. Junto deles vou encantar-te, para que nenhumas mãos impuras aflijam a tua inocência.
E assim fez. Ele, que tinha poderes mágicos, transformou a filha e as arcas carregadas de riquezas em pedras de uma gruta. Depois, ainda tentou usar da mesma magia para ele próprio e os seus mais próximos, mas já não foi a tempo. Uma lança interceptou-lhe as palavras mágicas que ia proferir.
Contam os mais velhos que aquele sítio se chama Cova da Moura, porque, em noites de luar, ainda há quem veja a menina vestida de branco, a andar sem rumo pelo alto da serra. Ouvem-na lamentar-se em língua estranha e chorar os pais e a felicidade que perdeu. Impressão será ou o sussurro do vento pelo meio da folhagem dos castanheiros...
Seja do que for, os mais velhos acreditam que a moura encantada da Serra da Penha guarda arcas e arcas de tesouros por desencantar. Vale a pena ir lá de propósito, em passeio, que mais não seja porque do alto da colina, onde a meio da encosta, alveja uma ermidinha, se abrange todo o casario da cidade
de Portalegre, o perfil do Castelo, as torres da Sé e, longe, a Serra de S. Mamede e a imensa planura alentejana. É outra forma de encantamento.
Versão literária escrita por António Torrado
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