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sábado, 15 de março de 2014

Lenda da Maia

[D]epois de em vão procurar um recanto onde pudesse acabar os restos da tormentosa vida que levara, Lísias, filho ou capitão de Baco – alguns querem também que fosse Lísio ou Líseo, filho de Sumule – já de avançada idade, ali foi ter 1300 anos a. C. e, achando-o do seu agrado, a este local se acolheu e com sua gente o povoou, edificando-lhe um forte e templo, consagrado a Dionísio ou Baco, seu deus, e dando à serra o nome de uma sua filha chamada Maia. Ali vivendo em paz e liberdade, apascentando os gados e cultivando os campos, de cujas sementes e frutos se alimentava […]. Estava o referido templo no local onde actualmente se ergue a ermida de S. Cristovão, a cujo sopé corre um arroio, que pelas gentes é conhecido pelo ribeiro de Baco. 

Ora reza a tradição que nas margens deste pequeno ribeiro se encontrava a malhada da pastora Maia – filha de Lísias – que pela sua bondade e formosura era adorada por todos quantos a rodeavam. Levava uma vida alegre e pacífica, guardando o rebanho de brancas ovelhas e encontrando-se diariamente em Tobias, que idilicamente e junto a ela se quedava horas sem fim, tocando na sua flauta pastoril. 

E, assim, feliz e descuidadamente decorria o viver dos dois jovens, até que Dolme, um miserando que por ali vagabundeava, embalado pelos toques maviosos da flauta de Tobias e entusiasmado pelos dotes físicos da linda Maia, numa tarde primaveril interrompeu os dois pastores, amedrontando-os com a sua aparição. Foi Tobias esconder-se atrás de um rochedo, enquanto que, levantando-se como que envergonhada, Maia fixa no chão os seus formosos olhos. Mas levada a isso pela doçura do seu coração e, possivelmente, para assim quebrar os instintos maus que adivinhava no intruso, desce para a borda do ribeiro, enche a sua cabacinha e bondosamente lhe oferece de beber a cristalina água que nela recolhera. Finge Dolme aceitar a gentil oferta mas, ao recebê-la, propositadamente deixa cair a cabaça e em seus musculosos braços tenta enlaçar a jovem que, estupefacta com tal gesto, aflitivamente chama por Tobias. Acorre ele e com Dolme trava sanguinolenta luta, que só termina quando este crava no peito do pobre rapaz o machado de pedra de que vinha munido, arremessando-o já moribundo de encontro aos rochedos. Horrorizada pretende Maia fugir mas não o consegue, pois Dolme a agarra e só a larga depois de ser cadáver. 

Desceu a noite nas abas daquela serra e Maia não voltara à malhada, pelo que, tardando-lhe o regresso, o velho pai a procura por toda a parte. Sobe aos outeiros vizinhos e chama repetidas vezes, mas o seu chamamento fica sem resposta. Assustadamente corre à malhada e, acendendo um toco de pinho, vai em procura da desaparecida. Passados instante o cão uiva lugubremente junto do cadáver da formosa Maia e o pobre pai, correndo para o pé do animal e deparando com a filha descomposta e morta, mede a grandeza da tragédia havida e instantaneamente perde a razão.

Durante sessenta luas por ali arrasta a sua triste vista, acocorado junto à malhada, onde julga ver aparecer a filha guardando as ovelhas, agora sem pastora. E, durante esse espaço de tempo, não pronuncia senão o nome de Maia, ele a quem os viandantes passaram a tratar pelo louco de Baco. Ao cabo de tão tormentoso sofrimento, ao velho ancião se afigura certo dia o aparecimento da filha que, sã e escorreita, lhe estendia os braços e, então, num fugidio lampejo de alegria, exclama:

“Maia, minha filha, morro feliz.”

Versão literária, de proveniência desconhecida, publicada na Grande Enciclopédia Portuguesa-Brasileira, volume II: 551.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Lenda das Santas da Aramenha

Teve esta cidade rei em tempos que os Romanos senhoreavam a Espanha. Um se chamou Catélio e sua mulher se chamava Cálgia, da qual nasceram nove filhas, todas de um ventre; que, enfadada a mãe com tantas filhas, com era gintia, as mandou deitar no rio por uma criada sua que, compadecida da piedade natural, que faltara na mãe que as havia parido, as deu a criar em um bairrio onde vivia gente cristã, e foram baptizadas e instruídas em nossa santa fé católica. Foram depois santas e mártires; os nomes destas santas traz o Martirológio Romano, e são os siguintes: Genebra, Liberata, Vitória, Eumélia, Germana, Márcia, Basília, Quitéria, Gema; as quais todas foram martirizadas em diversas partes.

Versão de proveniência desconhecida, recolhida em finais do século XVI ou princípios do século XVII por Diogo Pereira Sotto Maior (1984) – Tratado da Cidade de Portalegre, (introdução, leitura e notas de Leonel Cardoso Martins), Lisboa, INCM / Câmara Municipal de Portalegre: 37.

Portalegre - Praça da República


quarta-feira, 5 de março de 2014

Lenda da imagem do Mártir Santo

Diziam as pessoas antigas que há muitos séculos um cabreiro achou entre umas rochas (no local onde hoje são as Carreiras) uma imagem do Mártir Santo em pedra. Como morava lá para o pé do Veloso, onde era antigamente o povo, resolveu colocar aí o santo. Só que, no dia seguinte, ele estava de novo entre as pedras da serra. O cabreiro tentou levá-lo de novo, mas ele voltava sempre. Então as pessoas fizeram uma ermida a São Sebastião, no local onde a sua imagem tinha aparecido.

Anos passados, começaram a construir casas neste sítio, e assim nasceu também a aldeia.

Versão de Carreiras (Portalegre), contada em 1992 por Ana Fernandes Martins (n. 1913), recolhida e publicada por Ruy Ventura (1996) – “Algumas Lendas da Serra de São Mamede”, separata de Ibn Maruán – Revista Cultural do Concelho de Marvão, nº 6, Dezembro: 38.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Imagens do Alentejo


VERNEY, Luiz António

(n. Lisboa em 1713; m. Roma em 1792)

Filósofo, pedagogista, crítico e delineador de reformas português. Formou-se em Artes e, posteriormente, em Teologia na Universidade de Évora. Foi nomeado pelo Papa arcediago de sexta cadeira na catedral de Évora. O seu conhecimento em línguas clássicas e modernas, levou-o a ter contacto directo com as mais diversas obras escritas.

A sua mais célebre obra é o Verdadeiro Método de Estudar. Esta obra criticava todo o método de ensino utilizado na altura e também a mentalidade portuguesa de então. Esta obra foi duramente criticada na altura, à excepção de D. João V, que percebeu que este estudo implicava uma verdadeira reforma no ensino português. Por isso, encarregou Luís Verney de elaborar os novos Estatutos da Universidade de Coimbra.

A sua constante vontade em querer instruir os portugueses, em várias matérias filosóficas, científicas, históricas e literárias, levaram-no a assumir uma postura mais política, mas embateu com as ideias do marquês de Pombal, que rapidamente o fez desacreditar e vetou-o ao esquecimento.

Refugiou-se em Roma, onde para publicar os seus livros reformistas, acabou por despender a sua fortuna. Ficou conhecido por ser um verdadeiro “iluminista” e um dos primeiros precursores da medicina moderna em Portugal.



In Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa; Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia Lda., [195-]. Vol. XXXIV, pp. 712-716.

domingo, 2 de março de 2014

Lenda da Serra de Matamores

Dizem que na Serra do Mata Amores, Freguesia dos Fortios – Portalegre, há uma princesa encantada. Aparece a vender passas na manhã de S. João. Quem entrar na sua casa de pedra fica encantado.

Versão de Fortios (Portalegre) recolhida (em 1984) e publicada por Maria Tavares Transmontano (1997) – Subsídios para uma Monografia de Portalegre, Portalegre, Câmara Municipal de Portalegre: 132.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A chegada milagrosa da imagem de São Pedro a Alegrete

Versão recolhida por José António Teixeira Rebelo, pároco de Alegrete, em 1758 (Rebello, 1758 in Ventura, 1995: 100).

[…] A imagem de são Pedro dizem ser Angelical.


Versão de Alegrete (Portalegre), recolhida e publicada por António Franco Infante (Infante, 1985: 303).

A imagem de S. Pedro foi parar ao Algarve a quando da sua feitura, levando uma legenda que indicava: Alegrete. Duvidosos ou ignorando mesmo a localização de tal terra, resolveram os moradores do lugar onde chegou a imagem colocá-la em cima de um carro puxado por dois bravos e possantes bois. Sem que ninguém os guiasse, os bois vieram ter ao lugar onde a capela foi edificada e ali pararam. […] Logo que a imagem foi tirada do carro, assim os bois morreram.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Gastronomia Tradicional Alentejana - Coelho Panado

Ingredientes
1 coelho (bravo, de preferência)
2 colheres de sopa de banha
1 cebola
2 dentes de alho
1 ramo de salsa
1 folha de louro
1 colher de chá de colorau doce
2 colheres de sopa de vinagre
2 ou 3 ovos
pão ralado
óleo para fritar
sal
coelho-panado

Preparação
Corta-se o coelho em bocados e leva-se a refogar com a banha, a cebola, os dentes de alho, o ramo de salsa e o louro.
Tempera-se com o sal, o colorau e o vinagre e vão-se adicionando pinguinhos de água até o coelho estar macio, bem apurado e sem molho. Deixa-se arrefecer.
Batem-se os ovos com um pouco de sal. Passam-se os bocados de coelho pelos ovos, depois pelo pão ralado e fritam-se em óleo bem quente.

Receita retirada de Receitas e Menus

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Personalidades Alentejanas - SIMÕES, Augusto Filipe

(n. Coimbra a 18 Junho 1835; m. Coimbra 1884)

Filho de Manuel Simões Cardoso e de D. Constança Jesuína de Paula Cardoso. Bacharel formado nas Faculdades de Filosofia (em 1855) e Medicina (em 1860) pela Universidade de Coimbra; Médico do partido municipal do concelho de Goes nos anos de 1860 a 1862, e provido depois na cadeira de Introdução á Historia Natural no Liceu de Évora, da qual tomou posse em 1863, sendo conjuntamente nomeado Bibliotecário da Biblioteca Pública da mesma cidade.

A sua passagem por Évora foi marcante, já que foi o responsável pela organização do Museu de Cenáculo, rico repositório espigráfico-arqueológico, a restauração do Templo de Diana, a reforma da Santa Casa da Misericórdia, a criação e dotação de um posto meteorológico e a beneficiação da biblioteca.

Mais tarde torna-se lente catedrático na Universidade de Coimbra, mas a sua paixão pela arqueologia leva-o a criar um museu no Instituto de Coimbra, e na biblioteca da Universidade leva a cabo uma catalogação profunda e meticulosa. Foi também eleito deputado nas cortes, colaborou em várias publicações e escreveu vários livros, na sua maioria sobre a medicina ou arqueologia.

De entre as suas obras destacam-se as seguintes: Cartas da beira mar (Coimbra, 1867); Relatorio ácerca da Bibliotheca publica d'Evora, dirigido ao Ministerio do Reino, publicado na Folha do Sul.


In Dicionário Bibliográfico Português. Estudos de Innocencio Francisco da Silva applicaveis a Portugal e ao Brasil. Continuados e ampliados por P. V. Brito Aranha. Revistos por Gomes de Brito e Álvaro Neves [CD-ROM]. Lisboa, Imprensa Nacional, 1858-1923. Vol. VIII, p. 340.

In Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa; Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia Lda., [195-]. Vol XXIX. pp. 52-53.