Ao lado da ermida de S. Mamede nasce um ribeiro chamado da Azenha Queimada. Desde de socalco em socalco, até despenhar-se de cascata em cascata, sobre uma massa rochosa, com metro e meio de profundo, um de largura e dois de comprimentos.
A lenda diz que está ali uma moura encantada.
As mulheres diziam com convicção que em certos dias viam olhos de azeite e bocadinhos de alface à superfície da água.
Certo dia, um homem que vinha dos lados da ermida passou junto à cova da moura, e viu uma jovem duma beleza que nunca tinha visto. Tão surpreendido ficou, que mal lhe disse: “Deus te salve”.
A jovem disse-lhe:
“Sei que és boa pessoa, e a tua mulher também. Leva-lhe este cinto para ela usar.”
O homem agradeceu, e pôs-se a caminho. Ao entrar no souto da Quinta da Relva, deparou com um castanheiro que tinha uma pernada quase a tocar no chão. Resolveu pôr o cinto em volta dela, para ver o efeito que iria causar, quando a mulher o pusesse. De repente, o ramo onde tinha posto o cinto partiu-se. E o homem repetiu: “Meu Deus, se o tivesse posto à minha mulher!”
Imediatamente ouviu a moura dizer:
“Ingrato, que dobraste o meu encanto!”
O homem fugiu cheio de medo.
Diz a lenda: se o homem tivesse levado o cinto e a mulher o tivesse posto, nesse momento quebrava-se o encanto da moura, seguindo ela o seu destino.
Assim, ficou novamente a moura encantada, até que se lhe depare nova oportunidade.
Versão de Reguengo (Portalegre), recolhida por Manuel António Sequeira e publicada por Maria Tavares Transmontano (1997) – Subsídios para a Monografia de Portalegre, Portalegre, Câmara Municipal de Portalegre: 132 – 133.
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